domingo, 10 de dezembro de 2017

Este é o pior Congresso da História: nós e eles sabemos por quê

*Tereza Cruvinel



No dia em que uma pesquisa Datafolha apontou a reprovação sem precedentes da população ao atual Congresso (60%), e o patamar mais baixo de aprovação (5%), partiu de um estranho ao ninho parlamentar, que ao se eleger não foi levado a sério, o deputado e ex-palhaço Tiririca, uma pungente despedida do mandato, dizendo-se envergonhado da classe política que não quer mais integrar. Por isso não concorrerá em 2018. Ao longo do dia, entretanto, foram poucos os deputados e senadores que deram o braço a torcer. Como avestruzes, preferiram enfiar a cabeça na areia a comentar a desaprovação revelada pela pesquisa ou a chicotada até branda de Tiririca, que prometeu não contar tudo o que viu em sete anos. Mas nós e eles sabemos o que fez o atual Congresso nos últimos três anos. Por isso nas eleições de 2018 esperamos que o eleitorado traduza sua decepção em uma grande renovação quantitativa e qualitativa das duas Casas.


A rejeição não é ao todo, naturalmente. É à maioria da Câmara e do Senado que, ao longo dos últimos três anos, traiu os que representam e perpetrou seguidos crimes contra a democracia, contra a soberania nacional, contra os interesses populares. Daqui até à eleição, será preciso refrescar a memória do eleitorado lembrando tudo o que fizeram desde que tomaram posse em fevereiro de 2015. Lula, Manuela D´Ávila, Ciro Gomes e outros candidatos a presidente do campo democrático terão que lembrar muito o eleitorado do que fez a maioria do atual Congresso, em que se destacam os seguintes feitos vergonhosos:

A primeira decisão da maioria na Câmara, logo depois da posse, foi eleger Eduardo Cunha como presidente da Casa. Muitos, segundo o delator Lúcio Funaro, venderam seu voto a Cunha. Outros haviam tido suas campanhas financiadas por ele e pagaram a gentileza com o voto.

Logo depois, a maioria rejeitou todas as medidas propostas pela presidente reeleita Dilma Rousseff para reequilibrar as contas públicas, apostando no quanto pior, melhor. Melhor para os planos de Cunha e de todos que já conspiravam para derrubar Dilma.

Ao mesmo tempo, a maioria rejeitada começou a aprovar “pautas bomba” que agravaram a situação fiscal do governo.

Em abril de 2016, a maioria, numa votação que envergonhou o Brasil, pela exposição de sua indigência mental e intelectual, autorizou a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma. Eles sabiam que não havia crime de responsabilidade a ser apurado, e o disseram claramente, dedicando seus votos aos filhos, aos cônjuges e aos animais de estimação.

Já Eduardo Cunha, apesar de todas as evidências de corrupção e de quebra do decoro, foi por longos meses protegido pela maioria, que evitou sua cassação o quanto pode, até que o próprio STF o afastou do mandato.

Em seguida a maioria do Senado aprovou a condenação de Dilma, consumando o golpe parlamentar, na ausência de crime de responsabilidade demonstrado.

A mesma maioria que deu o golpe passou a sustentar o governo de Michel Temer e a aprovar suas medidas regressivas. A primeira foi a mudança na forma de exploração do pré-sal, abrindo as portas para o capital estrangeiro. Depois, a maioria do Congresso aprovou a PEC do teto de gastos, que congelou o gasto público por 20 anos.

A mesma maioria aprovou, em seguida, a reforma trabalhista, que cria os novos párias, os trabalhadores intermitentes, estimula a terceirização e liquida com direitos assegurados pela CLT.

Vendendo votos para Michel Temer, a maioria rejeitou duas denúncias da PGR contra ele. Uma por corrupção passiva, outra por obstrução da Justiça.

A mesma maioria que retirou direitos dos trabalhadores aprovou a premiação de empresários com o Refis, e honrou promessa feita por Temer aos ruralistas, aprovando a MP que perdoa e parcela as dívidas dos grandes proprietários com o Funrural.

Agora, a maioria acaba de aprovar uma MP que concede isenção tributária aos exploradores da cadeira de petróleo e gás, num claro atendimento ao lobby da Shell e petroleiras estrangeiras. O Estado abrirá mão de quase um trilhão de reais em poucos anos. A indústria nacional, especialmente a naval, será sacrificada em favor dos estrangeiros.

A maioria da Câmara, neste momento, resiste a aprovar a reforma previdenciária proposta por Temer. Não quer mais brigas com o eleitorado. Mas agora é tarde. O encontro com os eleitores está marcado e eles, pelo visto, já sabem como responder à maioria, por tudo que ela fez nestes três anos.

*Colunista do 247, Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País

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