quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Leda Paulani: Como consultores e a mídia distorcem informações para criar clima de recuperação econômica

Viomundo, 18 de outubro de 2017 às 20h00

A imprensa e a ‘badalada’ recuperação da economia


Como (e por que) a imprensa, ignorando números e indicadores, passou do terrorismo midiático sobre a economia durante o governo Dilma Rousseff para um inabalável otimismo após a sua destituição? Qual a real situação da economia no Brasil pós-golpe?
Leda Paulani (professora da USP e ex-secretária Municipal de Planejamento da cidade de São Paulo) e Márcio Pochmann (professor da Unicamp, ex-presidente do Ipea e presidente da Fundação Perseu Abramo) debateram o tema no Barão de Itararé, em São Paulo.

Segundo Paulani, dois semestres seguidos de crescimento, ainda que minúsculo, foram o suficiente para que o ministro da Fazenda Henrique Meirelles declarasse que “o país está superando a recessão”. As manchetes da mídia corporativa bateram bumbo na mesma direção.

A professora lembra que, diante da maior recessão da História do Brasil, qualquer índice positivo agora é sobre uma base bastante deprimida.

Ela opina que o crescimento de 1% no primeiro trimestre deveu-se acima de tudo a uma safra extraordinária. No segundo trimestre, o crescimento de 0,2% deveu-se, segundo Paulani, especialmente ao uso dos saques do FGTS, que geraram maior consumo das famílias e também foram direcionados ao pagamento de dívidas junto ao sistema financeiro.

A professora afirma que a mídia não enfatiza outros dados muito mais preocupantes sobre a economia: a queda da taxa de investimento, do crescimento da indústria e dos gastos do governo, que permitem fazer projeções de médio prazo.

Leda Paulani estranha que os especialistas ouvidos pela mídia falem em crescimento de 1% do PIB em 2017.

Para que isso aconteça, a economia teria de crescer 2% no terceiro trimestre e outros 2,5% no último trimestre. “Onde eles são formados? Ou foram cooptados?”, pergunta.

Paulani diz que faz parte do modelo neoliberal “assombrar a sociedade”, com o objetivo de pregar reformas que beneficiam setores específicos da sociedade.

É o caso, agora, da reforma da Previdência, que pelo discurso dos jornais ou acontece, “ou o Brasil quebra”.

O professor Márcio Pochmann destacou a falta de pluralidade na mídia, que replica apenas as opiniões de economistas e consultores ortodoxos.

Num olhar de longo prazo, sentencia: “O Brasil vive uma fase em que seu capitalismo não tem força dinâmica de expansão”.

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